No último dia do quinto Fórum de Comunicação e Trabalho, realizado na tarde e noite desta quarta-feira (9), no Auditório Senhor do Bonfim, foram trazidos dois momentos mediados por Fernando Pachi Filho (UNIP) e Daniela Oliveira (USP). Contando como a terceira sessão do evento, “Capitalismo de Plataforma: mapeando experiências e resistências e a quarta referente ao Trabalho Digital e implicações no jornalismo”. Para finalizar o Fórum, contamos com uma palestra da Marialva Barbosa, ex-presidente do Intercom, com o tema “De repente a interrupção do ininterrupto do tempo”.


Na terceira sessão do dia, houve a abertura com participação das palestrantes Aina Fernández (Universidade Pompeu Fabra) e María Solinã Barreto (Universidade Santiago de Compostela) apresentando o trabalho “O algoritmo não é meu chefe mais: Apropriação tecnológica e (novas) estratégias midiáticas em Riders x Derechos e Mensakas”. María Solinã iniciou falando a respeito do contexto do caso na cidade de Barcelona, que levou à criação de um sindicato para entregadores de aplicativo e da cooperativa Mensakas, a qual tem algoritmos e aplicativo próprios, e as estratégias midiáticas destes sindicatos nessas plataformas capitalistas. María trouxe ainda a relação das tecnologias e o trabalho, e como atualmente é definida a classe trabalhadora num contexto de aumento do trabalho desregularizado, salário reduzido no setor primário e aumento
do terciário.

Já Aina Fernández explicou a questão envolvendo as estratégias sindicais na divulgação das problemáticas a respeito dos aplicativos de entrega, por meio de uma análise de tuítes a respeito do grupo sindical e de Mensakas. Foi estudado também o tratamento midiático dirigido aos aplicativos de plataforma do Glovo e Deliveroo e da questão dos sindicalistas. As autoras buscaram assim evidenciar as estratégias sobre como lidar com a mídia na organização desses trabalhadores.

Em seguida, tivemos a participação de Ana Guerra (UFMG), falando sobre sua pesquisa de mestrado, ainda em andamento, a respeito de plataformização do trabalho e trabalho algorítmico, investigando isso através do preço dinâmico da uber. “O preço dinâmico, para quem não tá familiarizado, é uma variação no preço final das corridas no aplicativo da Uber, quando há uma alta de demanda e a oferta de motoristas não acompanha essa alta.” Os algoritmos, que são os que vão dar o valor, irão depender da ação dos motoristas e passageiros, da localização deles e de toda uma infraestrutura de dados, só podem agir quando entram em contato com esses agentes. Ela explicou que a pesquisa vem tentar desenvolver uma investigação em que busca interrogar esses algoritmos a respeito das operações de corpos de espaço, signos que eles produzem e as formas de conhecer e intervir no trabalho que estão implicados nessas relações. “Queremos entender quais são os valores, princípios, visões de mundo que orientam essa ação [dos algoritmos]”.

Para finalizar, Rodrigo Carelli (UFRJ), trouxe sua fala a respeito da plataforma digital e seu trabalho, com questões conceituais. Segundo ele, primeiro precisa-se entender que ela é uma infraestrutura sob a qual algo será construído, será a forma de organização empresarial. E as plataformas digitais então vão pegar a ideia do mundo analógico e adaptar para esse modo. “Nós temos que entender que estamos em um contexto de neoliberalismo, no qual o capitalismo de plataforma é uma dessas etapas, é a forma atual que se apresenta”. Rodrigo ressaltou a importância de compreender o contexto por trás dessa questão.

Já na quarta e última sessão tivemos a participação de três palestrantes: Roseli Figaro(USP), Ana Flávia Marques (USP) e João Augusto Antolini (UTFPR). Roseli explicou o que é o meio digital. Com ele, a ferramenta de trabalho irá mudar, trazendo outras implicações a essa esfera. Ela complementa que esse meio irá ordenar a informação e será a informação, permitindo mediar e fazer interagir. Assim, a comunicação ganhará uma centralização, mesmo que o trabalho não seja no ramo comunicativo. Tudo isso mudando as formas de produção, a organização dessa força de trabalho, aprofundando o controle e domínio do capital nessa forma de trabalho. “Nós temos um movimento muito grande de convergência de linguagens, de estruturas”.

Já Ana Flávia, em sua apresentação, ressaltou que essa plataformização é uma dimensão do mundo do trabalho. “O algoritmo é trabalho? Quem alimenta esse algoritmo?”, refletiu, a respeito de qual algoritmo separa as notícias do jornalismo para o Google, ou outros veículos de informação.

Em seguida, tivemos João Augusto conversando sobre sua pesquisa de doutorado, com foco nos assessores de comunicação e em como eles estão fazendo o uso dessas plataformas digitais. Segundo ele, nesses locais os assessores irão atuar mais como gestores de proximidade comunicacional. “Vai haver uma exigência de diferentes habilidades. Ele necessariamente tem que compreender a lógica de algumas plataformas”.

Por fim, Marialva Barbosa, que já foi vicepresidente e ex-presidente do Intercom, mudou o tema de sua palestra para refletir sobre o momento particular que estamos vivendo, principalmente quando recai na questão do trabalho. “Durante muitas décadas a gente não teve dúvidas que éramos governados pela virtualidade do mundo, que vivíamos um regime de aceleração do tempo”. Ela falou a respeito de autores que anunciavam que a crise das grandes narrativas era marca desses novos tempos, bem como todas as transformações através das tecnologias digitais, que mudariam como as pessoas relacionavam-se umas com as outras.