O V Fórum Comunicação e Trabalho trouxe, no oitavo dia de Intercom, duas sessões, coordenadas por Roseli Figaro (USP) e Cláudia do Carmo Nonato Lima (USP). Na primeira sessão, “Trabalho dos comunicadores em tempos de pandemia” as pesquisadoras Janaína Barros (UEMG) e Naiana Rodrigues (UFC) apresentaram a pesquisa “Como trabalham os comunicadores em tempos de pandemia da COVID-19”. Realizada pelo CPCT – ECA, da USP, tem como objetivo identificar mudanças e transformações no trabalho dos comunicadores e no desempenho de suas funções durante o período de isolamento social. Condições de trabalho, organização, propriedade dos meios e equipamentos de trabalho, medos e outras questões dos profissionais da comunicação foram incluídas na pesquisa.

Janaína Barros ressalta que um dos resultados obtidos pelas respostas dos profissionais é relativo à dinâmica dos trabalhos, com elementos como a relação entre colegas, supervisão de equipes e problemas comunicacionais devido à distância entre os trabalhadores. “Uma das queixas que os respondentes mais faziam era sobre o retrabalho” comenta a pesquisadora sobre os resultados observados. Estresse, aumento de cargas horárias diárias e questões técnicas foram algumas das mudanças mais sentidas pelos participantes – promovidas pelo trabalho remoto – relatadas na pesquisa. Além de questões relativas ao trabalho, há também a valorização por parte do público. Um dos relatos trazidos por Janaína foi de um profissional de um meio de comunicação alternativo, que expressa sua frustração frente à desvalorização dos profissionais da comunicação – por meio de descrédito e fake news – ainda que o jornalismo seja uma atividade essencial, que não parou.

Em sua exposição, Naiana Rodrigues aprofunda a pesquisa com uma análise das respostas com base em questões de gênero. Olhando mais especificamente para as mulheres respondentes, a pesquisadora identificou as condições que tornam o trabalho das comunicadoras mais complexo do que o dos comunicadores. “Podemos apontar alguns elementos específicos que intensificam o trabalho das mulheres”, comenta, e cita o aumento da jornada de trabalho, que se mistura com o tempo livre em casa e a maternidade – elementos que delimitam uma divisão sexual do trabalho, constructo social de uma sociedade patriarcal, como lembra Naiana. “Há uma naturalização dessa atribuição do trabalho reprodutivo às mulheres”, alerta, sendo ‘trabalho reprodutivo’ relativo ao trabalho doméstico e de cuidado – fruto de opressões sociais. A pesquisadora também cita que uma enquete da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas – identificou casos de 629 jornalistas mães, que relataram questões como alterações na jornada de trabalho, salários, e solicitação do auxílio emergencial.

A pandemia como dínamo das transformações do trabalho

 A segunda sessão, de tema “A pandemia como dínamo das transformações do trabalho”, contou com a participação de Rodrigo Moreno Marques (UFMG), Rafael Grohmann (UNISINOS) e a mediação de Jamir Kinoshita (USP). A terceira integrante, Ludmila Costhek Abílio (UNICAMP), infelizmente não pôde comparecer devido a um imprevisto. 

Rodrigo discute a ideia da polarização da informação e do conhecimento, que, segundo ele, é representada por uma distribuição assimétrica de informação e conhecimento na sociedade, o que gera desigualdades socioeconômicas e serve de instrumento de exploração. Com referências às obras de Karl Marx, segundo ele, o momento atual de crise do neoliberalismo e o contexto de pandemia representam uma perigosa combinação para os trabalhadores. “A pandemia acelerou e intensificou a superexploração da força de trabalho e precarização para a maior parte da classe trabalhadora”. A pandemia assume, segundo o professor, papel de catalisador – um dínamo, como o nome da sessão define – desse fenômeno da polarização da informação do conhecimento.

Rafael desenha um balanço do que se tem pesquisado sobre o trabalho de plataformas digitais e suas consequências, a exemplo da transformação da economia brasileira em uma gig economy, graças às condições do trabalho por aplicativo. “O que nós da comunicação temos a oferecer de diferente do que as outras áreas tem produzido sobre o assunto? E o que a nossa discussão tem a ver com as outras áreas?”, provoca. Para ele, a pesquisa nessa área no Brasil está em um momento de inflexão, de mudança de agendas. Sugere ainda, para investigar o tema sob outras intersecções, trabalhos de pesquisadores que “olham para outros lados”, associando ao tema questões relativas a gênero, mapeamentos e construção de plataformas alternativas.