Em seu segundo dia de atividades, o 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom) trouxe mais duas mesas de debates dentro do 43º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, que ocorreu durante a manhã desta quarta-feira (02). 

A terceira mesa do Ciclo, que aconteceu de 9h às 11h, trouxe como tema “Um mundo e muitas vozes: comunicação popular, movimentos sociais e a garantia da participação” que abordou, por meio da análise dos movimentos sociais, a questão pertinente da comunicação como um direito. Já a quarta mesa refletiu sobre “O mundo hoje: capitalismo de dados e impactos na pluralidade de vozes”, trazendo a problemática das redes sociais e seus impactos no debate público. 

Movimentos sociais e o direito à Comunicação 

A reunião “Um mundo e muitas vozes: comunicação popular, movimentos sociais e a garantia da participação” foi mediada por Paulo Victor Melo, integrante do Intervozes. A discussão teve a presença das professoras Cicília Perruzo (UERJ) e Raquel Paiva (UFRJ), além de Nilton Lopes, coordenador da ONG Cipó Comunicação. 

Cicília Perruzo refletiu sobre o direito à comunicação na voz dos movimentos sociais, destacando a importância da comunicação dentro desse meio como agente de mobilização e referência no processo educativo dos povos em busca de igualdade e cidadania. Segundo ela, a permanência dos principais veículos midiáticos nas mãos de uma minoria servindo a interesses econômicos e políticos provoca a busca pela comunicação como agente de transformação. “Buscar o direito de comunicar para ajudar a modificar realidades, mas os meios de comunicação tradicionais também têm papel nesse serviço”, disse. 

Raquel Paiva, pesquisadora da UFRJ, complementou o debate apresentando exemplos de mídias não tradicionais que simbolizam a pluralidade de vozes atualmente, como produções políticas de esquerda e direita. A debatedora indagou sobre o desafio da qualificação dessas produções, para além do combate às fake news, visando a contribuição para o debate público e um pensamento crítico. 

Finalizando a mesa, Nilton Lopes, coordenador da Cipó Comunicação, trouxe sua vivência na busca pela comunicação como um direito em sua luta na Bahia, acreditando na comunicação como agente importante na mudança de discursos e realidades. “A gente está falando da participação da comunidade civil na construção das políticas públicas de comunicação”, relembrou o palestrante, ao citar as conferências sobre o assunto realizadas no estado. 

Redes Sociais e os impactos no debate público

No debate “O mundo hoje: capitalismo de dados e impactos na pluralidade de vozes”, os debatedores Marie Santini (NETLAB/UFRJ), Tatiana Dias (The Intercept) e Tarcizio Silva (UFABC) analisaram o impacto das plataformas de redes sociais, suas ferramentas e algoritmos no debate público e na construção de um espaço de pluralidade. A mediação foi da professora da Facom/UFBA, Suzana Barbosa.

Durante suas exposições, os componentes apresentaram pesquisas e experiências no estudo das redes sociais digitais acerca do ideal de pluralidade de vozes nesses espaços. Marie Santini destacou a construção do discurso da baixa credibilidade dos veículos de comunicação na era digital. “Isso se refere a essa multiplicidade de fontes que passam a estar nas mesmas plataformas, como se estivesse em pé de igualdade com a imprensa tradicional. Além disso, as pessoas têm pouca alfabetização midiática para esse processo”, destacou. 

Tatiana Dias, jornalista do The Intercept, enfatizou o prejuízo que as redes sociais causam na qualidade do debate público, exemplificando políticas editoriais que prejudicaram a audiência dos veículos de comunicação, como a reorganização do feed do Facebook em 2018 para privilegiar o conteúdo de amigos e familiares. Segundo ela, isso diminuiu massivamente o alcance dos conteúdos jornalísticos de mídias tradicionais e independentes.  

Finalizando a apresentação, Tarcizio Silva trouxe ao debate o conceito de racismo algorítmico, que seria a disposição de tecnologias e imaginários sociotécnicos em um mundo moldado pela supremacia branca. Ao expor pesquisas e dados desses algoritmos, Tarcizio Silva reiterou observações sobre esses estudos. “É mais importante a gente olhar como práticas estruturais que já existem há séculos são automatizadas e ganham opacidade”, afirmou.