O 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom trouxe as duas primeiras mesas de discussão da edição, na tarde desta terça-feira (01), dia de início das atividades do evento. As reuniões, que aconteceram através do 43º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, duraram toda a tarde e se estenderam até o início da noite. 

A primeira mesa abordou o tema “40 anos do Relatório MacBride: avanços e desafios no campo da comunicação”, e discutiu o documento que foi publicado pela Unesco, em 1980, e que tinha o objetivo de promover análises sobre a comunicação no mundo. Já a segunda mesa trouxe reflexões sobre “Vozes em crise: discursos, narrativas e sustentabilidade”, analisando conjunturas atuais sobre as enunciações sobre as minorias sociais. Ambas reuniões contaram com a coordenação da professora Nair Prata (Ufop/Intercom).

O Relatório MacBride

A reunião que discutiu os “40 anos do Relatório MacBride: avanços e desafios no campo da comunicação”, foi mediada pelo professor Edgar Rebouças, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O debate contou com a colaboração de Delia María Crovi Druetta, professora doutora na Universidade Nacional Autônoma do México, do docente na UFBA, Othon Jambeiro, e do professor Eduardo Meditsch, da UFSC.

Os debatedores contextualizaram o surgimento do Relatório MacBride, o qual também é conhecido como “Um Mundo, Muitas Vozes”, intitulação que tematiza o Intercom 2020. Os professores-pesquisadores ainda pontuaram a importância do Relatório MacBride para a identificação das disparidades de processos comunicativos entre países, principalmente entre os de primeiro e terceiro mundo e discutiram também a relevância do documento para profissionais e usuários de mídias comunicacionais, já que “comunicação é poder”, como pontuou a professora Delia María Crovi Druetta.

Os discursos sobre as minorias

O segundo debate teve como tema “Vozes em crise: discursos, narrativas e sustentabilidade” e trouxe reflexões sobre enunciações construídas acerca das minorias sociais, principalmente sobre a população negra. A mesa foi mediada pelo jornalista Emiliano José e contou com a colaboração do professor Fausto Neto (Unisinos), Zulu Araújo, da Fundação Pedro Calmon, e do Tiago Gomes, do Conselho Nacional da Juventude/Canal Futura. 

Os debatedores frisaram a importância das redes sociais como uma forma de interação entre povos diversos e fizeram pontuações a respeito das narrativas que circulam nesses espaços. O professor Fausto Neto, por exemplo, destacou que existe uma batalha de discursos nos ciberespaços e que muitos deles são conflituosos e reforçam estigmas sociais. 

Tiago Gomes e Zulu Araújo, além de incrementarem a fala sobre as narrativas construídas nas redes sociais, fizeram reflexões sobre os discursos racistas construídos na web, nos produtos midiáticos e no meio social. Tiago Gomes trouxe exemplos de produtos da mídia que reforçam estigmas racistas e Araújo construiu linhas de pensamento que perpassam diversas instâncias sociais ligadas ao racismo estrutural.

Zulu, integrante da Fundação Pedro Calmon, ainda afirmou que as minorias precisam lutar contra discursos de integrantes das comunidades consideradas dominantes. “Precisamos disputar narrativas com a alta sociedade. Negros, homossexuais, mulheres e outros grupos precisam entrar nessa briga e levantar voz”. 

As mesas

As mesas integram o 43º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, inserido desde a primeira edição no Intercom, e conta com quatro temáticas de discussões. Além das realizadas no primeiro dia, acontecerá nesta quarta, 2 de dezembro, a mesa 3, que tem como tema “Um Brasil, muitas vozes: comunicação popular, movimentos sociais e a garantia” e a mesa 4, a qual irá trazer reflexões sobre “O mundo hoje: capitalismo de dados e impactos na pluralidade de vozes”.