Na tarde deste sábado (05) aconteceu o V Colóquio Jornalismo de Resistência no Congresso Intercom 2020. A reunião deste ano foi coordenada pelo jornalista e professor da UFF, Felipe Pena, e teve como palestrantes o pesquisador em Harvard, Jean Wyllys, e os professores Ivana Bentes (UFRJ) e Erick Felinto (UERJ).

O debate, que marca no Intercom deste ano sua quinta edição, foi iniciado pela apresentação do coordenador, Felipe Pena, que fez lembrança ao primeiro Colóquio Jornalismo de Resistência, que aconteceu em 2016, em meio ao golpe democrático à então presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. O professor lamentou o retrocesso democrático por que passa o Jornalismo em 2020, reforçando a importância do debate do colóquio e as lutas e pesquisas dos palestrantes presentes na mesa.

A primeira participação foi feita pelo jornalista e ex-deputado federal, Jean Wyllys, que hoje vive nos Estados Unidos e é pesquisador residente na Universidade de Harvard. Em sua fala, o palestrante fez um retrospecto das últimas eleições presidenciais até o atual momento, enfatizando o posicionamento do jornalismo no debate político.

“A redação é uma arena, mas dentro dessa arena cada jornalista tem suas responsabilidades éticas. A responsabilidade da imprensa, não só como veículo, mas também a responsabilidade de quem trabalha”, disse.

O debatedor falou sobre a cumplicidade que a mídia brasileira, através do jornalismo de referência, teve com as forças políticas no processo a favor do impeachment de Dilma Rousseff e das informações dirigidas que circularam nesses anos políticos decisivos que, na visão de Jean Wyllys, “contribuíram para a deterioração da democracia”.

Dando sua contribuição ao debate de resistência, a professora da UFRJ, Ivana Bentes, levantou a discussão sobre “linguagens de resistência”. O termo foi usado pela debatedora ao dialogar sobre os acontecimentos políticos de 2013, nos quais a mídia construiu o discurso de criminalização dos manifestantes e naturalização do justiçamento policial.

A pesquisadora acredita nas linguagens discursivas e corporais, que utilizaram das redes como um espaço de liberdade para produzir e compartilhar ideias conservadoras e antidemocráticas. “Nós estamos criando anticorpos, ao ler, ao criticar essa pandemia da desinformação que são as Fake News”, pontuou Ivana Bentes.

Sobre como o jornalismo deve agir diante dessas ideias extremistas, a professora ressaltou que “A linguagem de um jornalismo de resistência precisa ter emoção e empatia para fugir dessa nuvem tóxica que o discurso de ódio construiu”.

Com a deixa de Ivana Bentes, o coordenador do debate, Felipe Pena, completou que “o discurso da extrema direita não tem nada de novo a não ser as redes, e a estética também é uma linguagem e narrativa”.

O último palestrante da tarde, o professor da UERJ, Erick Felinto, que em sua pesquisa mais recente está estudando sobre o ideólogo conservador Olavo de Carvalho, trouxe para a mesa suas análises a respeito do discurso ideológico do conservadorismo, que dominou o cenário político nos últimos anos.

O professor frisou a importância de estudar os opostos a suas ideias pois “é impossível resistir sem entender”, como ressaltou logo no início de sua apresentação. Erick Felinto destacou as características que formam o discurso da extrema direita conservadora, que preserva o caráter da retórica e da religião.

Em seu estudo, o pesquisador aponta que a questão dos costumes é fundamental nesse discurso, que vê o passado sempre como melhor que o presente, que tem pânico das diferenças e da iminência da inclusão das minorias. “Para entender a situação que a gente está hoje, que prega uma ideologia de costumes, é preciso pensar nesses elementos que se formam as vozes por trás desses discursos”, concluiu.