O VII Encontro Internacional do Colégio dos Brasilianistas da Comunicação, realizado durante todo o terceiro dia de Intercom 2020, contou com uma rica programação, incluindo palestrantes internacionais.

“Projeção das ciências da comunicação e da informação na contemporaneidade” foi o tema da conferência de abertura. Alberto Pena Rodríguez (UVIGO – Galícia) e Armando Malheiro (UP – Portugal) foram os conferencistas principais, sob mediação de Sonia Jaconi (INTERCOM).

Alberto Pena Rodríguez discorreu acerca de sua pesquisa sobre a comunidade luso-brasileira nos EUA, que analisa publicações periódicas de estilo informativo. “Ao longo da história, foram sendo criados jornais e revistas para atender a chegada desses imigrantes, que precisavam não só ter informações locais, mas também sobre suas terras de origem”, destacou. Segundo ele, o futuro da imprensa luso-brasileira nos EUA dependerá de sua capacidade de permanecer como uma fonte de informação útil para os imigrantes neste novo contexto de comunicação.

Em seguida, o professor Armando Malheiro fez uma reflexão sobre as ciências da comunicação e da informação a partir de uma perspectiva interdisciplinar. “Como os cidadãos buscam, consomem e transformam a informação são problemas que não interessam somente aos colegas da comunicação. Nós, da ciência da informação, estamos lidando com essas questões há décadas e, portanto, podemos trabalhar juntos articulando conceitos, vocabulários, etc”, afirmou.

O primeiro colóquio “Identidade do profissional da Bahia no jornalismo” teve início logo após a conferência de abertura e foi coordenado por Tattiana Gonçalves Teixeira (UFSC). Os professores Sérgio Mattos (UFRB), Ernesto Marques (ABI-Associação Baiana de Imprensa) e Suzana Oliveira Barbosa (UFBA) foram os palestrantes.

Suzana Barbosa analisou o cenário do jornalismo baiano a partir das transformações tecnológicas, principalmente com a chegada da web. Segundo ela, se por um lado existe uma resistência, por outro, “há a necessidade sempre premente de reinvenção, de recriação de nós, como profissionais, para atuarmos nesse contexto”. Assim, a inovação deve ser entendida não somente do ponto de vista tecnológico, mas também de processos, de produção de conteúdo, de linguagens e formatos jornalísticos.

Ernesto Marques apresentou pesquisa feita pelo coletivo “Eu sou jornalista” com profissionais de comunicação da Bahia. Entre outros resultados, o estudo identificou que é grande o desemprego entre os jornalistas baianos e que o freelancing é uma tendência irreversível. “Independentemente das pressões entre capital e trabalho, nosso meio se reúne pouco e discute pouco temas como a necessidade de empresas jornalísticas serem remuneradas pelos conteúdos que circulam nas plataformas”, defendeu.

Encerrando o colóquio, o professor Sérgio Mattos refletiu sobre a identidade jornalística e a autorreferência e se existe ou não um chamado jornalismo brasileiro padrão. “A legitimação do jornalismo e do jornalista está vinculada a ferramentas e critérios variados que mudam de acordo com o contexto histórico, sócio-econômico, político e cultural do país. Exatamente por isso, é necessário avançar na delimitação do conceito de jornalismo para, a partir dele, examinar os eventuais deslocamentos que as novas práticas acarretam em relação ao papel social de mediador do jornalismo”, enfatizou.

Pesquisa e intelectuais baianos

Dando continuidade à programação do Auditório Farol da Barra, o segundo colóquio do dia teve como tema a produção e difusão da pesquisa comunicacional brasileira em instituições acadêmicas internacionais. Sob a coordenação de Maria Érica de Oliveira Lima (UFC), a mesa teve como palestrantes os pesquisadores Cristian Yáñez (UACH – Chile) e Jack Draper (MU – EUA).

“Percebemos a saudade sob diferentes tempos e espaços que vai do subalterno ao hegemônico.” Foi assim que Jack introduziu sua pesquisa sobre as produções culturais nacionais e esse movimento de resgate. A partir dos filmes “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, e Macunaíma, de João Pedro de Andrade, o professor apresentou elementos como a pornochanchada, o saudosismo de personagens e as referências históricas dessas obras para reafirmar sua tese através da óptica do Cinema Novo dos anos 60. 

Já Cristian Yáñez citou suas pesquisas em cultura popular e folclórica no Brasil. Para ele, a análise da cultura deve ser feita a partir das manifestações repressivas que vão ser reproduzidas nos meios. 

No terceiro e último simpósio do dia, os intelectuais baianos e suas contribuições para a comunicação foram os temas discutidos. Sob a mediação de Cristina Schmidt (UMC), o debate contou com as falas de Maria das Graças Targino (UFPI), Sonia Virgínia Moreira (UERJ) e Guilherme Moreira Fernandes (UFRB). 

“Ler Jorge Amado é sempre prazeroso, ele me leva de volta para a adolescência”. Foi contando da sua relação pessoal com as obras do famoso escritor baiano que a professora Maria das Graças iniciou sua fala. Através da trajetória literária do poeta, Maria contou um pouco o porquê de Jorge Amado ter se tornado um dos autores mais populares do país e do mundo. Para ela, a irreverência, o sensualismo, a brasilidade e o provocativo são algumas das peças fundamentais que explicam o tamanho da grandiosidade que são os escritos do poeta baiano. “Marcas do regionalismo num período de ruptura. Discorrer sobre Jorge é falar sobre o povo baiano”, completa. 

Seguindo a mesma linha narrativa, a professora Sonia Virgínia trouxe a trajetória de Milton Santos e sua relação com a comunicação. Segundo ela, as mudanças de casa durante a vida de Milton tiveram forte influência nas áreas de estudo do geógrafo. Além disso, sua contribuição em veículos de comunicação, como o jornal baiano ‘A Tarde,’ contribuiu para uma análise da comunicação sob a ótica da geografia. 

Por fim, o professor Guilherme Fernandes apresentou a carreira do escritor Edison Carneiro e seus feitos no universo literário. Guilherme contou que Edison iniciou suas atividades na ‘Academia dos Rebeldes’ – fundada por Jorge Amado, grupo de jovens que aspiravam produções literárias – e sob forte influência do modernismo e do marxismo, publicaram uma série de escritos. “Tinham como objetivo denunciar as facções oligárquicas da Bahia”, explicou Guilherme.