Com o tema central “Um mundo e muitas vozes: da utopia à distopia?”, o 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2020) chega ao segundo dia de atividades. Integrando a programação desta quarta-feira (02), o V Colóquio Latino-Americano de Ciências da Comunicação reuniu pesquisadores do Brasil e de outros países da América Latina para debater as reconfigurações da comunicação a partir das dinâmicas impostas pelos fluxos comunicacionais do contexto digital. Assim, os encontros possibilitaram espaços de debate, potencialização dos conhecimentos desenvolvidos nas diversas regiões latino-americanas e de incentivo à elaboração de novas pesquisas.

No primeiro dia de discussões do Colóquio, o evento foi subdividido em duas mesas e contou com a mediação da professora Roseli Fígaro, doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Inicialmente na Mesa 1, composta pelos pesquisadores Raúl Fuentes Navarro (ITESO) do México, Gustavo Cimadevilla (UNRC) da Argentina, Edgard Rebouças (UFES) do Brasil, Erick Torrico (UCB) da Bolívia, a conferência propôs reflexões sobre “Os rumos da comunicação na América Latina no contexto digital: caminhos e descaminhos de uma área do conhecimento”.

As discussões estiveram alicerçadas no contexto histórico em que o Relatório MacBride foi elaborado e nas condições atuais dos fluxos comunicacionais. Cabe ressaltar que mesmo após 40 anos, o documento continua lançando luz sobre as condições atuais de desigualdades de acesso à comunicação nos mais diversos âmbitos e contextos sociais. A democracia digital ainda parece um ideal distante de ser alcançado, no entanto “a comunicação é um terreno fértil e precisamos continuar trabalhando para uma real democratização de acesso”, afirma Roseli Fígaro.

Para o professor Edgard Rebouças, mesmo com toda a defasagem enfrentada pelos países da América Latina e do Terceiro Mundo em termos de tecnologias e comunicação, nós precisamos continuar propondo “alternativas e criando caminhos” para combater as desigualdades que dificultam a conquista da utópica democracia digital. “Pegando os princípios marcados no relatório para combater as desigualdades tecnológicas, desigualdades políticas, desigualdades econômicas, desigualdades educativas, desigualdades culturais, desigualdades sociais, precisamos entrar com a nossa colaboração latino-americana novamente”, pontuou Edgard, atual diretor de Relações Internacionais da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).

A reflexão feita pelo professor Raul Fuentes-Navarro, ao afirmar que “o sentido da utopia é o sentido de futuro que precisamos resgatar”, sinaliza que a dualidade na relação entre utopias e distopias pode ser reconfigurada a partir das perspectivas de futuro que traçamos aqui e agora.

Mediações da cultura e da educação

Logo em seguida, a Mesa 2 debateu “A comunicação digital em transe: mediações da cultura e da educação”, expandindo as discussões levantadas pela primeira mesa. Os participantes desta mesa foram a mexicana Délia Crovi Druetta (UNAM), o uruguaio Gabriel Kaplun (UDELAR) e o comlombiano José Miguel Pereira (Javeriana). O objetivo da mesa foi tensionar as condições impostas pelas dinâmicas do digital nas ações e estratégias da educação e cultura.

Para a professora Délia Crovi, a educação à distância (EAD) assume um papel ubíquo e transmidiático no contexto pandêmico. “A educação a distância estabelece um vínculo muito sólido com as tecnologias e vai se modificando na medida em que aparece novas possibilidades tecnológicas”, afirmou. No entanto, os problemas levantados pelas discussões mostram que existem barreiras que precisam ser superadas para que seja possível uma realidade de conexão global igualitária. “Há um paradoxo entre as diferentes narrativas das escolas públicas e privadas, das situações de trabalho dos educadores e comunicadores”, pondera Roseli Fidalgo.

O V Colóquio Latino-Americano de Ciências da Comunicação continua nesta quinta-feira (03). Na Mesa 3, das 14h às 16h, acontece a conferência “A comunicação digital no popular e no alternativa: utopia ou distopia?”, com a presença dos convidados Chiara Sáez Baeza (UCHILE) do Chile, Cicília Peruzzo (UERJ), Washington Uranga (UNSL) da Argentina. E, na Mesa 4, que começará logo após, o debate se densenvolverá no tema “As empresas de plataformas de comunicação no controle: oportunidades de utopias e de distopia na América Latina” com a participação do chileno Carlos Ossa Jura (UCHILE) e dos brasileiros Adrián José Padilla Fernández (UFRR) e Rafael Grohmann (Unisinos). A moderação será realizada pela professora Roseli Fígaro.